Os sinos da Igreja Nossa Senhora da Conceição badalavam, anunciando a hora de ângelus; os altofalantes de Pe. Sinfrônio tocavam a Ave Maria de Gounod; eu nascia de parto natural sob o olhar atento de D. Durica e no mesmo momento, minha mãe me consagrava a outra mãe: Nossa Senhora da Conceição.
Ou seja, nasci duas vezes: a primeira como filho da operária-professora rural Mercedes, e do operário-carpinteiro- músico José Hilário; e a segunda, como filho consagrado por ela, à padroeira de nossa cidade de Pedro Leopoldo. Por isso, me chamo Renato, quer dizer, renascido ou nascido duas vezes.
Agradeço a meu pai, mas, principalmente, à minha mãe por este duplo nascimento: da união dela com meu pai e da intimidade dela com o divino, na conversa que teve de mãe para mãe, ao me entregar a Maria de Nazaré, mãe do carpinteiro Jesus.
Este sentido humano-místico-espiritual de minha mãe, que se revela a mim, seu primeiro filho, se estende a meu irmão Roberto, minhas irmãs Raquel, Regina, Rosângela, Rosálida (in memoriam) e demais familiares. Manteve-se no tempo, e permanece hoje em netas, netos, sobrinhas, sobrinhos, bisnetas e bisnetos.
Mas, tem mais: intensa, amorosa, exigente, fez-me aprender a ter o coração e mente abertas, no que fazia dupla e cumplicidade com meu pai.
E como?
– Simples: nossa casa na Comendador Antônio Alves sempre esteve e está aberta a todas as pessoas, independentemente de cor, classe, gênero, sexo, religião, situação econômica e social. Sempre se podia colocar agua no feijão, fazer outro bule de café, ou estender um colchão no chão, a todas e todos que chegavam à nossa casa, independente de hora e dia.
A vivência individual e coletiva desta ambiência, me levaram a viver e escolher este acolhimento-amorosidade, como base subjetiva e práxis de minha vida cotidiana, em nível de constituição de seres humanos como sujeitos de amor, sujeitos de poder, sujeitos de saber e sujeitos histórico-culturais, fundamentos de minha tese de doutorado defendida na Universidade de Campinas, na qual minha mãe, como sempre, estava presente, mesmo com sua dificuldade de locomoção.
Hoje, estar presente na vida de cada irmão e irmã é outra aprendizagem e homenagem-gratidão, que faço à minha mãe. Estava junto nas e das alegrias, celebrações, festas, e também, na dor, na doença, nas tristezas que são parte da essencialidade e natureza da vida. Dela, junto com meu pai aprendi e aprendemos que as dificuldades existem para fazer-nos fortes, destemidos e corajosos.
A meu ver, isto nos torna mulheres e homens acolhedoras/es-amorizadas/os; abertos à convivência-aprendizagem no diferente e com a diferença, e, em que as pessoas são felizes, porque têm o AMOR, como fundamento da vida, individual e coletivamente.
Obrigado, minha mãe Mercedes e todas mães no Mundo, que são a razão de toda Bondade, Perdão, Misericórdia e Amor que existe no planeta.
Renato Hilário dos Reis – GENPEX/FE/UNB
Brasília 07/05/2022.