Começo por dizer que o melhor que podemos fazer por nossas mães é dar a elas um tempo nosso, um tempo de qualidade. Sem celular, atentos ao que elas dizem, sem ligar se é repetição, se elas querem saber do quê e com quem estamos conversando. Deixar que falem de suas memórias, que se queixem de alguns aspectos da vida, que nos cobrem mais presença. Se a mãe for jovem, que fale de seu trabalho, como se sente, porque o faz, como se conecta com o seu propósito de vida. Se ela se sente cansada, ou culpada por ausências cotidianas, deixá-la entender que nada disso diminui o reconhecimento do seu amor. O que toda mãe quer é que seus filhos a amem, a despeito de seus defeitos ou de suas prioridades simultâneas decorrentes de seus múltiplos papeis na vida. Uma mãe querida, que já se foi, dizia para a filha, minha cunhada, que gostava mais quando os filhos a visitavam sem os cônjuges, pois com eles – entendia ela – seria “meia visita”. Quem é casado entende perfeitamente o quanto de sabedoria tem nesse posicionamento.
Mas o que me pedem é o que dizer às mães sobre os tempos de hoje. São tantas gerações de mães que é difícil ter uma narrativa que abranja todas. Se sente desatualizada? Sem problemas, mãe, eu também me sinto. A aceleração da tecnologia torna tudo obsoleto em questão de dias. Inclusive na linguagem. Não entende mais qual é o papel do pai ou da mãe, ou como tratar com pessoas que possuam orientações sexuais ou de gênero diferentes da sua? Não se preocupe, mãe, ninguém sabe mais como educar seus filhos, nominar e tratar de forma respeitosa as minorias, o que fazer para não ofender, sem querer, pessoas de credo, cor, religião, ideologia política, diferentes das suas próprias. A cada dia temos que incluir e decifrar letras. LGBTQIPA+, por exemplo. Só ontem eu soube da inclusão deste P. A cada dia, temos que nos esforçar mais para não cometer lapsos, atos falhos, repetir piadas ou ditados, para ter o cuidado que cada pessoa requer em seus relacionamentos diários.
Sente que as pessoas te tratam como se nada existisse antes delas? Deixa pra lá. Jovens de 40 anos são chefiados por outros jovens de 28 anos e sentem que também são discriminados como se o saber anterior não tivesse importância. Se você tem mais de 60 anos então, qualquer erro que cometa será atribuído à sua dificuldade de entender a internet, de decifrar linguagens, de lidar com o contemporâneo. Querem te explicar, como se tivesse 5 anos, coisas prosaicas como fazer um check in, preencher um formulário na web e outros? Ou até mesmo como passar o seu cartão de crédito? Liga não, mãe. Eles não sabem nem 10% do que você sabe. E te amo por muito menos de tudo que sabe …
O que está acontecendo no mundo, minha filha? Que história é essa da Ucrânia e da Rússia? Por que pessoas que eu admiro defendem, com o mesmo empenho e certeza, posições antagônicas? É que o mundo se tornou tão complexo, mãe, que nem mesmo os cientistas políticos, os internacionalistas, os economistas, os cenaristas conseguem se apropriar das múltiplas facetas que emolduram uma guerra – ou manobra especial – entre “supostamente” dois países. Há tanta coisa em jogo…
Mas no meio de tanta confusão, tanta falta de diálogo, em que o idioma já não dá conta de expressar o que pensamos, algo permanece inalterado. É o amor que as mães dedicam aos seus filhos, às vezes manco, às vezes equivocado, às vezes excessivo. É esse amor que nos redime, nos faz entender que representamos alguma coisa. Nessa hora, é bom lembrar uma passagem do velho Freud com uma mãe austríaca. O psicanalista, já famoso em vida, é questionado por uma mãe: “Dr. Freud, o que devo fazer para ser uma boa mãe, para educar bem os meus filhos?”. O mestre responde: “Não se preocupe, tudo que fizeres, estará errado”. Isso porque, se protegemos muito, corremos o risco de ter filhos despreparados para a vida. Se os deixamos soltos, podem se perder nos labirintos de suas jornadas. Se exigimos muito deles, podem tornar-se pouco flexíveis e com dificuldades de lidar com a leveza. Ou, ao contrário, ficaram tão tensionados, que na idade adulta não querem saber de dedicação aos estudos ou ao trabalho duro. Se somos excessivamente condescendentes em tudo, podemos criá-los sem noção de limites e assim, não se adequarem às normas da sociedade. Se os cercearmos, poderão ter problemas ao lidar com autoridades. Essa frase do Freud, entendida em suas entrelinhas, é a melhor coisa a dizer para as mães.