Melhor do que viajar é voltar para a nossa casa. Nada supera a felicidade da convivência com os amigos, vizinhos e familiares. No meu caso, depois de alguns dias fora de Pedro Leopoldo, o reencontro com a cidade acontece, também, através dos passeios de bicicleta. O sábado que passou foi dia de matar essa saudade. Escolhi um trajeto muito especial para mim, porque engloba, em uma mesma região, natureza, história, cultura e espiritualidade. Sim, Pedro Leopoldo consegue ter tudo isso junto em um pequeno cantinho do município.
Por volta das nove horas parti aqui da região central da nossa pólis, rumo ao Capão e à Igreja e cemitério dos Bexiguentos. Passei em frente à sede da prefeitura e praça Chico Xavier. Virei na avenida “Canal”, que não sei o nome – todo mundo que conheço a chama por esse apelido – e subi para depois virar à direita. Era mais do que necessário visitar e ver a beleza e o charme das casas do “quadro”, o início ou um dos inícios da nossa formação como cidade. Infelizmente, ao que parece, não se pode entrar no terreno do que foi a antiga Fábrica de Tecidos. Eu não tentei.
Acho que todo morador imagina aquele espaço como um grande parque municipal, aberto a todos os habitantes da Cachoeira das Três Moças. Ali, teríamos piqueniques, shows, encontros entre amigos para um bate papo sobre a cidade e a vida e, claro, bicicletas. Sonhar não custa nada…ainda acredito na possiblidade de um parque ali na Fábrica. Só espero que aquele terreno não se transforme em mais um condomínio de prédios de apartamentos. Mais do que querer, necessitamos de uma cidade inclusiva!
Cheguei na rua do quadro! Ah, quanta história!! A sede do clube dos funcionários da fábrica, arquitetura antiga e perfeita das antigas casas, que deveriam ser ponto de visitas e estudos por parte das nossas crianças e estudantes e a antiga residência da querida Dona Cidália, irmã de Chico Xavier. Na garagem, a antiga Variant – cor de abóbora – do seu Chiquinho Carvalho, marido de dona Cidália. Segundo minha esposa, era com esse antigo automóvel que o seu Chiquinho distribuía pão a quem tinha fome nas antigas ruas de terra da então Vila São Geraldo. Só de passar pela rua do quadro e ver e conhecer todas essas preciosidades já seria válido o passeio. Mas tinha mais, muito mais!!
Da esquina do antigo bar do Abú, que aqui não se pode explicar o significado do nome – impróprio que é para menores – parti rumo à Igreja dos Bexiguentos. Não sem antes apreciar a beleza e a maravilha da construção do antigo casarão que pertenceu ao Senhor Levy Teixeira. Não sei de quem ele é hoje, pelo que notei, parece estar ocupado, mas, para mim, não existe lugar melhor em Pedro Leopoldo do que este para abrigar o arquivo Geraldo Leão. Isso depois de uma bela reforma, patrocinada, porque não, pela nossa iniciativa privada. Investimento em história e cultura. Primeiro passo para a formação de verdadeiros cidadãos. E a Heineken está aí, chegando!! Quem sabe uma boa conversa…
Enfim, a igreja e o cemitério dos bexiguentos. Um lugar mais do que especial; de paz, tranquilidade, espiritualidade e respeito. Respeito à história dos que ali tiveram a sua última morada. Para quem não sabe ou não é de Pedro Leopoldo, ali foram enterrados, no início do século passado, pessoas que faleceram vítimas da varíola – ou “bexiga” – como se chamava à época. Diz a lenda – que os mais antigos podem confirmar ou não – que pessoas foram sepultadas ainda com vida.
Após muitos anos, o cemitério dos bexiguentos passou a ser um lugar de peregrinação e muita reza pela alma dos que lá foram enterrados. Muitas promessas feitas e várias graças alcançadas. Anos depois, já no início da década de setenta, foi erguida uma pequena, linda e aconchegante capela, em homenagem aos que partiram vítimas da “bexiga”, à Nossa Senhora Desatadora de Nós e pelos milagres por muitos alcançados. Todos os domingos, antes do almoço, tenho por hábito ir aos bexiguentos para fazer uma oração, agradecendo a semana que passou e pedindo força para vencer a que se inicia.
Segui adiante rumo ao Capão. Fui até a uma antiga lagoa, que agora, infelizmente está seca, desci em direção ao açude e passei pelo antigo esqueleto do memorial Chico Xavier, mais um monumento ao desperdício de dinheiro público em nosso país. Mas que tem conserto e com concerto!! Já imaginaram naquele local a possibilidade de construção de um anfiteatro? Seria perfeito! Oficinas de teatro, exposição de obras por artistas locais e realização de shows como da nossa Corporação Musical Cachoeira Grande. Impossível? De forma alguma. Basta vontade política e pressão popular, que também se faz necessária para despoluir o açude do Capão, local em que Chico Xavier teve o primeiro encontro com Emmanuel, o seu mentor espiritual.
Atravessei o açude e passei pela rua Caio Martins. Vi as donas de casa nas janelas e os meninos jogando bola nas calçadas. Subi e parei um pouco no São Geraldo, na casa do meu sogro, João Marques, local bom para tomar um café e jogar muita conversa fora. Depois de alguns minutos de prosa é chegada a hora de ir embora. Desci o São Geraldo e passei pela rua Progresso, para ver uma Pedro Leopoldo de prédios que, aos poucos, vai substituindo uma antiga cidade. Termino o meu passeio na minha Rua Esporte, revigorado e pronto para escrever o que vivi, não sem antes tomar uma cerveja gelada para abrir o apetite para o almoço, pois, o apetite para a vida já foi aberto; por Pedro Leopoldo e pela bicicleta!! Até a próxima!!