DIA DAS MÃES
Crise climática, desemprego, crise econômica, Covid-19 e todas as consequências sociais destes cataclismos… como enfrentar um momento tão difícil, tendo na barriga um novo ser que irá habitar este mundo tão complicado? Como enfrentar as dificuldades próprias deste período de pandemia, marcado pelo isolamento e, consequentemente, distanciamento de quem pode ajudar as mães a trazerem seus filhos ao mundo?
Neste domingo, 09/05, comemoramos o Dia das Mães. No segundo ano da pandemia do coronavírus, talvez este seja um dos momentos mais difíceis para se viver a experiência da maternidade e não só pelos perigos que a doença traz, mas também pelas incertezas que tomaram a humanidade.
“Deixo aqui uma mensagem de apoio e carinho às mulheres que se tornaram mães ou engravidaram nessa pandemia. É um momento muito delicado, com muitas dúvidas e medo” diz o ginecologista e obstetra Marcus Marinho. Não é para menos Ele lembra o pavor vivido por grávidas diante da Zica, transmitida pelo mesmo mosquito da dengue e chikungunya.
“Agora, somos ameaçados por um vírus que pode causar várias comorbidades e não sabemos ao certo como combatê-lo”, observa o médico, que aconselha tanto às grávidas quanto ao restante da população que continuem evitando locais com muitas pessoas, façam a higiene das mãos e usem máscaras. “As grávidas, em especial, devem fazer todos os exames e consultas do pré-natal e seguir as orientações dadas pelo seu médico obstetra”, reitera Dr. Marcus.
Nesta reportagem do site AQUI PL, ouvimos mães e futuras mães, que estão vivendo ou viveram a gravidez em meio à pandemia. São as mães da esperança, encarnada nestas crianças que são os arautos de um mundo que, seguramente, não será mais o mesmo, depois de vencermos esse período trágico na história da humanidade. Mas qual será o mundo onde essas crianças vão viver? Aprendemos alguma coisa?
O passado nos mostrou que, nas piores crises, a solidariedade ressurge. É o que nos mostram por exemplo as campanhas de arrecadação de todo e qualquer tipo de ajuda para o exército de necessitados que surgiu com a crise sanitária e econômica. São ações que só reforçam um conceito que muitos já sabem e apregoam: “a única maneira de sobreviver neste século será a ajuda mútua”, decretou o cientista francês Pablo Servigne.
A importância de um abraço acolhedor
Eu tive o Miguel no dia 16 de março de 2020.Tive alta da cesárea com um dia e a maternidade, a Vila da Serra, em Nova Lima, já estava isolada por causa do Covid. Era o início de tudo e todos estavam muito assustados com a notícia da morte de um senhor com suspeita da doença. Dias depois, tudo foi fechado por completo.
O pediatra proibiu que eu recebesse qualquer tipo de visita, inclusive e principalmente da minha sogra. Precisei dispensar a ajudante e fiquei por 70 dias completos no puerpério, só e com duas crianças: uma de 4 anos e o Miguel. Meu marido Rodrigo esteve o tempo todo presente, mas ele saía para trabalhar cedo e voltava no final do dia. Dias difíceis, de muito medo. Aos poucos, fui retomando minhas atividades com muita cautela para mim e para o bebê… hoje ele tem um ano e um mês – de vida e de pandemia!
Aprendemos a valorizar as relações e a importância de um abraço acolhedor… respeitar a dor e o espaço do outro e, principalmente a vida! (Letícia Coutinho, 40 anos, empresária e moradora do bairro São José)
Que nossos filhos tenham de volta a infância
Eu me chamo Keronlayne Corrêa, tenho 27 anos e sou mãe de três crianças: um menino e duas meninas. Helena Eduarda Salvatore Araújo Corrêa nasceu no último dia 13 de abril, com 51 centímetros e 3,265 quilos, pelas mãos do Dr. Marcelo Gonçalves, ou seja, a gestação se deu durante a pandemia.
Confesso que, por diversas vezes, o medo bateu à porta, o medo de ser infectada e atingir o feto, mas nesse período me apeguei ao único que nos blinda de todo mal: Deus. Graças a ele, minha filha nasceu saudável, cheia de luz e trazendo esperança em meio a tantos percalços.
Minha esperança é que tudo isso acabe, que possamos abraçar nossos familiares e amigos e que nossos filhos tenham de volta a infância da qual têm sido privados neste momento e que eles possam desfrutar do melhor de Deus em suas vidas. Que as pessoas aprendam o valor da amizade, da família e do amor.
“Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder” (Legião urbana)
Passei a gravidez inteira isolada por causa da Covid
Quando engravidei no ano passado da nossa pequena Isabela, primeiramente senti uma alegria imensa, pois era meu sonho ter outro filho, depois de Lucas, que hoje está com 11 anos. Porém, não foi fácil: passei a gravidez inteira isolada por causa da Covid 19, com meu estágio no Fórum, por exemplo, em teletrabalho, como forma de prevenção.
Sempre fui muito ligada à minha família, fazíamos reuniões semanalmente, mas depois da pandemia, não fizemos mais encontros, apenas passagens rápidas pela casa de nossos pais, com todos os cuidados, máscara e distanciamento.
No ano passado, meu sogro teve Covid e ficou internado, ficamos muito preocupados, mas graças a Deus ele venceu e está muito bem. Eu tive muito medo pois li várias reportagens mostrando gestantes mortas pelo vírus que tiveram que tirar o bebê antes da hora; também vi casos de mulheres que tiveram seus bebês e não puderam pegá-los nos braços pois estavam contaminadas – esse foi meu maior medo.
O meu médico, Dr. Marcus Marinho, foi um anjo, me tranquilizando sempre, e dizendo que iria ficar tudo bem. Isabela nasceu no dia 21/12/2020 e minha preocupação era o tempo todo com a higienização de tudo, tinha mais duas puérperas no meu quarto e seus acompanhantes.
Não recebemos visitas, passamos as festividades de final de ano isolados, nós quatro em casa. Foi um final de ano atípico, mas ficamos felizes pela chegada da nossa filha. Até hoje estamos em quarentena, para ser sincera eu não sei qual foi a última vez em que fui a um supermercado. Não saio com ela, exceto para levar ao pediatra e para tomar as vacinas. Minha filha nasceu em um mundo diferente e creio que viverá uma realidade em que nada será como antes.
Higienização frequente, uso de álcool em gel, uso das máscaras, reuniões por vídeochamada, mãe trabalhando em home office, escola do irmão online, são novos hábitos que, mesmo com a vacina (e ainda vai demorar para que todos estejam vacinados) vão perdurar. Mas creio que um dia tudo isso irá passar, basta fazermos nossa parte agora e em breve teremos retorno. (Laís Cristina Silva Nestor Sena,27 anos, casada com Marcone e Bacharel em Direito)
Ainda falta muito para voltar a ser quem eu era
Meu nome é Luiza Lidiane de Melo tenho 38 anos, sou babá e casada com o barbeiro José Maria Pereira, há 29 anos na profissão em Lagoa de Santo Antônio. Sou mãe do Marcos Daniel, de 18 anos, e estamos à espera do Murilo, que está quase chegando.
Desde o início da pandemia, fizemos todo o necessário para nos cuidar. Meu esposo com seu trabalho cumprindo todos os protocolos de segurança exigidos nos decretos municipais. Eu trabalhando como babá, sendo responsável comigo e com a família onde presto meu serviço.
Meu esposo precisava fazer uma cirurgia que aguardava há um ano e tinha sido postergada justamente por causa da pandemia. Já havíamos até perdido as esperanças em relação à cirurgia, pois achávamos que não ia ser feita tão cedo. Em janeiro, ele foi chamado para fazer a avaliação, fez os exames e a cirurgia foi marcada para o dia 25 de março.
Ele voltou para casa no dia 27/03 e, se recuperando bem da cirurgia, apareceu com uma tosse estranha. Eu, além da tosse, senti uma leve pressão na cabeça. Fomos ao PA da Lagoa, fizemos o teste rápido e posteriormente no laboratório, por conta própria. Mesmo tossindo, cabeça doendo e o corpo como se tivesse tomado uma surra, meu teste deu negativo e o do meu esposo, positivo.
Mas sou muito teimosa e intuitiva e pensei : “e se a covid ainda não tiver sido detectada pelo teste rápido?” Batata! Meu teste era falso negativo! Mandei mensagem para o Dr. Pedro Garrido, expliquei sobre meus sintomas e ele me orientou a ir até a maternidade. Me orientaram a tomar paracetamol para dor ou febre apenas, monitorar a saturação, a temperatura e a pressão arterial também.
Foi uma loucura o isolamento domiciliar, é muito difícil lidar com isso. Os dias passando, a tosse aumentando, a barriga pesando, o mal-estar da gravidez e da Covid se misturavam e eu já não sabia mais nada. Meu esposo teve febre; no PA da Lagoa, foi medicado com corticóides e mais alguns medicamentos para melhorar a respiração que estava complicada, mas a saturação dele sempre se manteve boa.
Daí por diante foi melhorando pouco a pouco. Eu, com 12 dias do isolamento, comecei a sentir uma forte dor nas costas. Foram dias terríveis com muita incerteza, angústia, medo, a gravidez sob controle mas as dores e a insônia me enlouquecendo. Dor, febre, tosse, já que a imunidade baixou pelo estresse. Foi uma via crucis, tomei antibiótico, corticoide, antialérgico e todos me fizeram mal.
Só melhorei no dia do ultrassom. Naquele dia parece que renasci, pois o meu bebê estava com a mãozinha no rosto e o médico disse que estava tudo bem com as artérias e que minha placenta estava suprindo ele de todos nutrientes. Mesmo assim, fiquei sem forças pra voltar ao trabalho, psicologicamente abalada, sem chão. Com tanta coisa, a gestação passou e estou aqui ainda fraca, mas esperançosa de, em breve, ter meu filho nos braços.
Mas a lição é dura: a Covid, mesmo quando a pessoa não morre, mata os sonhos, a esperança, o dia a dia. Ainda falta muito para voltar a ser quem eu era, mas minha família é minha força. Ela não mediu esforços, foram várias pessoas que fizeram orações, ajudaram até financeiramente. Graças a elas, creio que em breve estarei 100%.
Precisamos tirar algo de bom dessa fase ruim
A Letícia é a minha terceira filha, descobri a gravidez em julho de 2020. Eu já tinha uma filha, a Larissa, com 21 anos, que tive aos 16. Eu e meu esposo sonhávamos em ter um bebê e tentávamos desde 2016, até sabermos que não seria possível de forma natural. Decidimos ir em busca do sonho pela ciência, fizemos milhões de exames e juntamos uma grana para a fertilização em vitro. Passamos por vários médicos e exames e a maioria não era coberta pelo plano de saúde, era tudo muito caro mas isso não fez a gente desanimar….
No meio desse caminho, em 2019, surgiu uma criança, a Sofia, de 2 anos, da qual ganhamos a guarda definitiva, pois a mãe não teve condições de cuidar e nos deu essa missão. Com isso optamos por deixar guardado o sonho do nosso bebê. Um ano e meio após a chegada da Sofia, porém, descobrimos a gestação, que aconteceu de forma natural e nos deixou em êxtase.
Letícia chegou em um momento muito especial, mas difícil também, em que o nosso planeta vive uma situação inesperada e triste. Fiquei com muito medo, afinal era um momento muito esperado e pensei em tudo que poderia acontecer caso a Covid chegasse na minha casa. Mesmo assim, fomos surpreendidos com o corona quando eu estava com 3 meses de gravidez, meu esposo pegou e ficamos totalmente assustados, pois é um vírus que infelizmente ainda não sabemos lidar.
Meu marido ficou isolado em casa dentro do nosso quarto, o período passou e, graças a Deus, o vírus não foi transmitido para mais ninguém da casa. A Letícia com certeza chegou em um mundo melhor, acredito que toda a geração que está chegando agora fará um mundo melhor; precisamos tirar algo de bom dessa fase ruim. Espero que, ao crescer, respeitem mais uns aos outros, tenham mais compaixão, empatia e amor por todos e entendam que dependemos sempre do próximo para um mundo melhor.
(Gislene Moreira, 38 anos, mãe em tempo integral)
Não deixei me influenciar pelas fake news
Quando descobri a gravidez, veio a aflição pois era o começo da pandemia, da trajetória triste dessa doença. Porém João Emmanuel é meu primeiro filho e nada afetaria a felicidade pelo recebimento de uma vida. Pesquisei sobre os riscos para gestantes e bebês e foram momentos tensos, porque muitas notícias sem veracidade corriam e as pessoas acabavam comentando comigo. Eu tentei filtrar somente o correto e o que os médicos diziam, sem me influenciar pelas fake news. Ouvi a voz do meu coração e ganhei meu bebê na Maternidade Eugênio de Carvalho. Tenho eterna gratidão, da internação até a alta, aos profissionais altamente capacitados que me atenderam. Claro precisa de melhorias o hospital? Sim… com certeza! Até mesmo para se manter de pé… e preservar a qualidade.
Eu desde o início da gravidez trabalhei de home office, o que permitiu que eu me mantivesse isolada. Não gostaria de, por imprudência, colocar meu bebê em risco. Então fiz o máximo para nós resguardar.
Sou uma pessoa consciente e sabia dos riscos que corríamos. Graças a Deus não tive Covid e lamento muito pelas famílias que estão sofrendo perdas irreparáveis nesse momento triste que estamos passando.
Meu filho viverá em um mundo diferente porque é impossível voltarmos a sermos como antes, sempre digo que essa doença também veio para nos fazer pessoas melhores; mais agradecidas, solidária, humanas.
Não planejei estar grávida em uma pandemia, ela foi uma lição para minha vida. É claro que essas primeiras semanas da vida dele não são como eu imaginava. É triste que ele não possa conhecer seus avós, tias e tios ou amigos da família. Chamadas com Whatsapp, cheios de fotos do recém-nascido, não substituem o cheiro de um bebê.
Penso em como explicarei ao meu filho que ele nasceu durante os meses mais extraordinários de uma geração. Vou dizer a ele que eu e meu marido Renato não somos as únicas pessoas neste mundo. Que as ruas de Pedro Leopoldo não são as únicas estradas pelas quais vai andar. Que ficarei grata a esse confinamento, mesmo de má vontade, por me ensinar como ser mãe. E desejo a todas as mamães, gestantes e puérperas, paz e luz! Peço a Deus que continue nos abençoando e que livre todos os bebês dessa pandemia. E aguardo ansiosamente pelo dia que estaremos todos salvos. (Cintia Michele de Assis, 37 anos, auxiliar de logística)