Diante das notícias de que a LafargeHolcim planeja deixar o Brasil, o site AQUI PL procurou fazer contato ontem com Wilson Geraldo da Silva, presidente do Sinticomex, sindicato que representa os trabalhadores do grupo em Pedro Leopoldo. Não conseguimos. O sindicalista, porém, falou ao jornal Diário do Comércio hoje, 21/4, e confirmou as especulações.
Segundo Wilson, o negócio já está encaminhado e deverá ser anunciado nos próximos meses. “Pela experiência que tenho, se tratando de uma multinacional, a venda já deve ter sido encaminhada para o Cade ou está próxima de acontecer”, revelou Wilson, que também é presidente da federação de trabalhadores do setor em Minas Gerais, a Feticom-MG.
Ele se disse preocupado com quem vai ser o comprador: “estamos falando de 1.600 empregos diretos em todo o País e de uma empresa consolidada que pratica as melhores condições de trabalho e de salário no setor. Estamos em meio às negociações da convenção coletiva e queremos deixar tudo definido para quando houver a efetivação da venda”, afirmou o dirigente sindical ao jornal belo-horizontino.
A Lafarge-Holcim não confirma o negócio, mas reportagem do jornal Folha de São Paulo de hoje aponta que o grupo contratou o Banco Itaú BBA para assessorar a venda de sua operação no mercado brasileiro. A fonte da matéria é a agência de notícias Bloomberg, que traz ainda o valor da transação, que pode chegar a US$ 1,5 bilhão (R$8,5 bilhões). De acordo com a Bloomberg, o movimento faz parte de ação da LafargeHolcim de vender ativos para diminuir sua dívida. A empresa tem se concentrado em cortar atividades fora da Europa e vendeu unidades em países como Indonésia, Malásia e Filipinas.
O movimento da LafargeHolcim surpreende porque, além de ser a terceira cimenteira no mercado, este é um bom momento para o setor de cimento no país. Segundo o Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), mesmo na pandemia ele cresceu 19% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com igual período do ano passado. Foram vendidas 15,3 milhões de toneladas no trimestre, 5,5 milhões em março, mês que registrou alta de 34,6%. O sindicato considera que a alta reflete as boas condições climáticas, manutenção das obras programadas e construções feitas pelos próprios donos ou moradores. Mesmo assim, fala que o cenário é de incertezas, por causa do fechamento das lojas provocado pela pandemia e a queda na renda.
José Eduardo Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), confirmou à Folha que uma saída da empresa seria inesperada neste momento de pico de vendas. E que a empresa permaneceu no país em períodos muito difíceis para o setor. Como o site AQUI PL divulgou ontem, a LafargeHolcim já havia vendido ativos no Brasil para o grupo irlandês CRH, para cumprir com obrigações concorrenciais. Alguns deles foram adquiridos pela Brennand, transação aprovada ontem pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), conforme a nossa matéria. Leia aqui.
Procurado pelos dois jornais, o grupo LafargeHolcim não comentou a notícia. Caso o fato seja confirmado, a empresa integrará uma lista considerável de multinacionais que têm deixado o Brasil nos últimos anos, sob argumentos relativos à competitividade e ambiente de negócios, como a Sony, Ford, Audi e Mercedes, farmacêutica Roche e Nike. A Holcim está no Brasil desde 1951, portanto há 70 anos, quando o então grupo Holderbank adquiriu a primeira subsidiária brasileira, a Sacomex (Sociedade Extrativa de Calcário Ltda.).
Segundo o Diário do Comércio, a Prefeitura de Barroso (na região Central), onde está uma das principais operações da multinacional em Minas, disse que aguarda uma confirmação oficial da empresa para se pronunciar. O diretor da Feticom-MG e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Barroso, João Luiz Aparecido Silva, ressaltou que a preocupação com os funcionários é grande. “Não sabemos se a empresa será vendida para chineses, italianos ou mexicanos e nos preocupa o relacionamento que o novo controlador terá com os trabalhadores. Além disso, se daqui a seis meses ou um ano o Cade não autorizar a venda, o grupo vai paralisar as operações e demitir todo mundo?“, questionou.
João Silva disse ao jornal que tamanha angústia tem a ver com a possível justificativa para o grupo controlador deixar o Brasil e que seria a inviabilidade do negócio aqui, mesmo com o aquecimento do mercado. “O cenário não ajuda, o país não tem uma governança séria que norteie os negócios e todos ficamos dependentes de uma política econômica que não sabemos onde vai dar. Por isso, tantas multinacionais estão saindo daqui. No caso da LafargeHolcim, as operações colombianas lucraram bem mais que as brasileiras, mesmo aquele país sendo bem menor”, afirmou o sindicalista.
A LafargeHolcim é líder mundial em vendas de cimento e emprega hoje cerca de 90 mil funcionários em mais de 80 países do mundo. Com cerca de 1.600 empregados, a LafargeHolcim Brasil tem presença em todo o País e está presente em três das cinco regiões: Sudeste (SP, RJ, MG e ES), Nordeste (BA, PE, PB e RN) e Centro-Oeste (GO). Em Minas Gerais, o grupo tem fábricas em Barroso, Pedro Leopoldo e Montes Claros, além de um terminal em Barbacena e uma PCH em Uberaba.