A cidade perde Roberto Dinelli

A cidade perde Roberto Dinelli

Conheci o Dinelli na segunda metade dos anos 80, quando ele veio para Pedro Leopoldo morar nas terras de sua família, na Tapera. Eu tinha quase trinta e ele um pouco mais, talvez 35 anos. Como caixa do Banco do Brasil, eu fazia às vezes de recepcionista aos recém-chegados, dando as boas vindas e, com a curiosidade própria dos que escolhem o jornalismo, tentava descobrir a trajetória de quem vinha bater aqui na nossa terra.

Engenheiro civil pela UFMG, Dinelli era chegado nas coisas da água, da terra e do ar: antes de se abancar por aqui, deu aula de yoga, teve um restaurante de comida natural e foi instrutor de asa delta em Florianópolis. Não demorou para se adaptar e adotou Pedro Leopoldo para viver e criar aqui seus três filhos: Demian, Daniel e Déborah.

Ele chegou falando em preservação do meio ambiente, um tema que começava a ganhar nossos corações, engatinhando num país que ainda se preparava para a Rio-92. Logo o apelidei de “engenheiro verde” e não foram poucos os artigos que escreveu sobre o tema em nossas publicações ao longo dos anos.

Ganhou a cidade, conquistou namoradas e muitos amigos, ao mesmo tempo em que defendia com unhas e dentes pautas suas que se tornaram coletivas. Em especial o ordenamento urbano e a proteção à criança e ao adolescente, que formalizou ao atuar em instâncias como o Plano Diretor, a Fundação José Hilário, a Associação dos Engenheiros, os conselhos municipais e mesmo em sua vida profissional, como consultor ambiental de vários empreendimentos no município.

“O meio ambiente da maioria das pessoas é a cidade, então precisamos cuidar da qualidade de vida urbana”, me disse uma vez, em entrevista a uma das históricas edições de meio ambiente da revista AQUI PL. Para isso, defendeu Dinelli, temos que ter “cuidados com as coisas naturais, como a arborização e jardinagem na ruas, praças e margens dos rios, parques e recantos e também educação ambiental, para que a população mantenha esses cuidados. Tudo depende de planejamento urbano, limpeza, disciplina e gentileza social”, apontou o “engenheiro verde”.

Dinelli morreu nesta terça, 20/4, depois de lutar com coragem contra um câncer. Mais do que nunca, precisamos nos espelhar em suas ideias para cuidar da nossa cidade, que também se tornou dele – formalmente, já que é cidadão honorário de Pedro Leopoldo. Um dos muitos legados deste “engenheiro verde”, que parte mas deixa para quem fica mais um pouco a missão de proteger e preservar o planeta para as próximas gerações.

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

ARTIGOS RELACIONADOS

CSN SOLTA CHUVA DE POEIRA NO SÃO GERALDO

CSN SOLTA CHUVA DE POEIRA NO SÃO GERALDO

Os moradores da região do bairro São Geraldo foram surpreendidos na manhã de hoje por uma chuva de pó, descarregada pela chaminé da cimenteira CSN. A situação vem se repetindo

LEIA MAIS
Caminhada ecológica: uma experiência de cidadania

Caminhada ecológica: uma experiência de cidadania

Nesse 5 de junho de 2024, meu olhar para a questão do meio ambiente recai sob minha condição de mulher, mãe e professora. Quando penso qual é a importância de

LEIA MAIS