Houve um tempo que o cimento na região tinha dono: os Dias na Cauê, o português Antonio Champalimaud na Soeicom, os franceses da Cominci. Não havia muita intimidade entre a comunidade e os capitães do cimento, mas sua presença era nítida, fosse na quantidade de empregos oferecidos, nos impostos gerados ou no apoio a projetos sociais, imprensa ou eventos como o carnaval.
O negócio de cimento, porém, continua bom. Em plena pandemia, as vendas crescem em números chineses: na comparação entre março de 2021 e março de 2020, o crescimento foi de 34,6%, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. Mas quem manda, a gente não sabe mais. Muitos fabricantes tradicionais de cimento buscaram compradores e/ou sócios para fortalecer sua estrutura de capital e essas várias misturas no setor fortaleceram antigas marcas.
A Cauê está parada, mas continua nas mãos do segundo produtor nacional de cimento, a Camargo Correa. Para quem não sabia, a fábrica de cimento de Matozinhos, que produz a marca Campeão, não é LafargeHolcim desde 2015, quando o grupo irlandês CRH adquiriu fábricas do grupo em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Na época, a francesa Lafarge e a suíça Holcim venderam algumas de suas unidades, dentro do processo de fusão das duas gigantes do setor de cimento. Foi uma espécie de compensação oferecida às autoridades antitruste, principalmente da União Europeia.
Nesse pacote, a CRH ficou com uma fábrica e uma moagem em Arcos, a fábrica de Matozinhos, a moagem de Santa Luzia, todas em Minas Gerais, e a fábrica em Cantagalo (RJ). Ou seja, as principais unidades estavam na região metropolitana de Belo Horizonte, área de competição acirrada por mercado. Nossa região é conhecida, pasmem, como “Faixa de Gaza” do setor no país.
As operações adquiridas pela CRH dispunham, na época, de capacidade para fabricar 3,6 milhões de toneladas de cimento por ano. Gerida por uma holding americana, a CRH Brasil no entanto não pegou, com o cimento representando apenas 1% da receita da divisão Américas de materiais em 2018. Sendo assim, desde 2019, as operações estavam à venda.
Hoje, 20/04, a Brennand Cimentos, que tem uma fábrica em Sete Lagoas, comunicou a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) à compra, há dois anos, das cimenteiras do grupo CRH no Brasil. Detentora da marca Cimento Nacional, a BCPAR é composta pelos grupos Ricardo Brennand (pernambucano) e Buzzi Unicem (italiano) e vai controlar mais cinco fábricas de cimento no País. Entre elas, está também a cimento Alvorada, da Holcim em Cantagalo, que também era da CRH. E não está a Cimentos Liz, de Vespasiano, que continua em mãos portuguesas, agora as do herdeiro Luís Champalimaud.
A notícia chegou em Pedro Leopoldo como uma possível saída da LafargeHolcim do país, o que provocou o maior alvoroço mas não é verdade. As fábricas cuja venda foi aprovada hoje já não eram do grupo franco-suíço, que continua à frente das fábricas de Pedro Leopoldo e de Barroso, entre outras unidades.