35% do plástico descartado em algum lugar do mundo foi usado por apenas 20 minutos. É o tempo de comprar um doce na padaria, levá-lo para casa em uma embalagem de plástico, comer…. e jogar a embalagem no lixo. E o pior: muito dinheiro é gasto para nos “livrar” desse lixo – uma expressão que nos acostumamos a usar, mas que não é nada apropriada já que a maior parte dos resíduos pode ser reaproveitada, reutilizada ou, pelo menos, corretamente descartada.
Segundo dados levantados pelo gabinete do vereador Matheus Utsch (Patriota), a Prefeitura de Pedro Leopoldo gasta mais de R$ 3 milhões por ano para coletar e destinar o lixo produzido na cidade. O contrato com a empresa Vina prevê a coleta de 12 mil toneladas de lixo urbano por ano, que são transportadas para o Aterro de Sabará.
“Se conseguíssemos diminuir pela metade o lixo produzido e, consequentemente, sua destinação final, poderíamos reduzir o valor do contrato com a empresa em R$ 1.551.991 reais”, calcula Matheus. “É muito dinheiro público, suficiente para comprar 12 mil cestas básicas ou dobrar a quantidade de fraldas geriátricas, conceder 40% de insalubridade para os funcionários da saúde na linha de frente da Covid e ajustar a recomposição salarial dos servidores públicos”, compara o vereador.
A economia cobriria, por exemplo, a contratação de dez novos enfermeiros, dez professores e 15 novos guardas municipais por um ano. Ou sustentar 800 famílias recebendo de forma integral o auxílio emergencial por três meses. E tem mais: o contrato com a Vina prevê o aluguel, mais manutenção, higienização e desinfecção, de 1.560 lixeiras verdes, a um valor de R$ 194.227,25 por mês. Dinheiro gasto à toa, segundo a ambientalista Aline Dias. “Elas só servem para deseducar a população, que utiliza pra misturar todos os resíduos (orgânicos, inorgânicos recicláveis e inorgânicos não recicláveis), a qualquer dia e horário. Além de ser um desrespeito com o dono da calçada”, diz ela, que é grande crítica dos contêineres.
Normalmente, uma cidade produz 200 quilos de lixo por habitante e Pedro Leopoldo está justamente nesta faixa. Segundo especialistas da área, poderia reduzir essa quantidade para 60 quilos, ou seja, para menos de um terço, o que faria sobrar ainda mais recursos públicos para serem aplicados em áreas prioritárias. Isso é possível aproveitando aquilo que não é lixo, é material reutilizável ou reciclável e deve ser tratado como tal: separado e higienizado. Afinal, se você mistura comida com papelão, vai transformar os dois materiais em lixo e não haverá outro destino para ele que não seja o aterro sanitário.
Na verdade, pouca coisa que descartamos não é reciclável, como o papel higiênico e alguns tipos de vidros (veja matéria anterior do projeto PL Sustentável ) Justamente por isso, são vários os motivos para você começar já a reduzir os resíduos que gera em casa, começando por separar o material reciclável e disponibilizá-los para o pessoal da Ascapel, que passa na sua rua. Você pode também fazer compostagem de resíduos orgânicos que, em vez contaminar o solo com o tóxico chorume no aterro, pode se tornar um eficiente adubo para hortas e jardins. Ou seja, você deixa de fazer parte do problema só gerando lixo e começa a fazer parte da solução!
Quando pensamos em geração de lixo, existem 5 ações que devem ser repetidas constantemente: repensar (será que preciso mesmo disso?), recusar (dizer não para aquele brinde, papel na rua, oferta “imperdível” ou para embalagens desnecessárias), reduzir (gerar uma quantidade cada vez menor de resíduos e lixo), reutilizar (dar novo uso ou usar repetidas vezes uma embalagem ou produto) e reciclar (dar o destino correto para o resíduo que você gerou e não pode reutilizar). A Aline tem algumas sugestões, que já fazem parte de seu cotidiano:
– Usar bucha vegetal ao invés da bucha sintética plástica.
– Separar o resíduo de óleo em um recipiente para ser doado a quem produz sabão caseiro.
– utilizar sabão natural tipo de coco.
– utilizar shampoo e sabonete em barra para não gerar resíduos de embalagens.
– usar água, sabão e toalha ao invés de papel higiênico no banheiro ou toalhas de papel na cozinha
– utilizar bicarbonato ou vinagre na limpeza da casa, evitando produtos tóxicos e agressivos ao meio ambiente.
– usar fraldas de pano reutilizáveis ao invés das descartáveis.
– reusar a água sempre que possível.
– usar sacolas retornáveis pra carregar compras e principalmente pra carregar itens a granel e, assim evitar ao máximo os plásticos.
– evitar produtos descartáveis. Onde for leve um kit lixo zero: um copo retornável, uma garrafa para água, talheres e outros utensílios que você sabe que vai precisar ao longo do dia.
– valorizar o comércio local – compre em padarias e mercearias perto e casa. Os produtos vão estar mais frescos, podem usar menos agrotóxicos e não vão viajar tanto para chegar até você. Apoie iniciativas como o Mercado do Pequeno Produtor
– pense bem antes de comprar qualquer coisa, veja se realmente precisa e dê preferência para itens sem embalagem
– menos desperdício e mais aproveitamento para os alimentos. Bois, porcos e galinhas gostam muito dos restos de frutas, verduras e legumes.
– lâmpadas, pilhas, bateria e tintas devem ser objeto de logística reversa, ou seja, o fabricante tem que aceitar de volta. Esta é uma batalha a ser travada, pois quase nenhum comércio em PL aceita esses produtos de volta. Em BH, a Leroy Merlin aceita.
A advogada Márcia Lopes, do Recoa, acredita que a sociedade está despertando para a mudança em seus hábitos de consumo. “Ela tem que começar dentro da gente”, observa. Em casa, Márcia dá o exemplo: faz compostagem, separa recicláveis para a Ascapel, não queima resíduos nem joga tintas, remédios, esmaltes, óleo ou baterias no lixo. Praticamente, sobra apenas o resíduo de banheiro. “Como disse Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Eu faço a minha parte e relato isso em todas as oportunidades que tenho. Temos que nos tornar exemplos para todos os outros”, completa.
Reduzir o lixo que produzimos é ter como modelo um conceito que é chamado de “Lixo Zero”. Segundo a consultora e auditora Susanne Galeno, este é um conceito cada vez mais necessário, “diante da quantidade de dinheiro que perdemos por não reciclar, por não usar os recursos naturais de uma maneira mais consciente”. Segundo ela, o “lixo zero” é não só uma meta econômica alcançável, como um indicativo do caminho a ser seguido.
Nesse momento, mais de 160 cidades no país estão desenvolvendo alguma programação neste sentido. “A gente precisa parar de “enterrar dinheiro” e começar a destinar de maneira correta esse investimento”, diz Susanne, que vê na escola um local importante para este debate. “É um local onde se constroem conhecimentos, onde a gente vai auxiliar o cidadão e a cidadã a desenvolver um pensamento crítico, e auxiliar na mudança do pensamento e das práticas na sociedade”, completa.