Um estudo de professores mineiros mostra que as fakenews só fazem efeito quando elas encontram pessoas que acreditam naquilo que elas dizem. Ou seja, se seu conteúdo tem a ver com as convicções políticas de quem as recebe.
Assim, antipetistas acreditam que o Lulinha é sócio da JBS e é dono de um avião. Militantes antivacina têm certeza de que os imunizantes que estão sendo desenvolvidos contra a Covid-19 vão introduzir chips no corpo das pessoas. E petistas vão achar que qualquer notícia envolvendo políticos do partido em corrupção será a mais deslavada mentira.
Segundo a professora de Ciência Política da USP, Maria Hermínia Tavares, eleitores apartidários são menos suscetíveis a rumores políticos fabricados. Em artigo para a Folha de São Paulo, ela cita a pesquisa feita pelos cientistas políticos Frederico Batista Pereira, Natalia Bueno, Felipe Nunes e Nara Pavão.
Feito em Minas Gerais nas últimas eleições, o estudo constatou que simpatizantes do PT tendem a acreditar em notícias falsas favoráveis ao partido, enquanto antipetistas aceitam aquelas que reforçam suas crenças anteriores. Os dois grupos não mudaram muito de posição mesmo ao serem informados de que era tudo mentira.
Mas os eleitores apartidários, que são maioria no Brasil, são bem mais céticos diante de informações falsas. Para Maria Hermínia, é inegável o desserviço prestado pelas fakenews ao poluir o ambiente social e provavelmente contribuir para a polarização política, mas estão longe de ter a influência sobre os eleitores a elas atribuída.
Mas há outro lado a ser analisado: se uma fakenew tem pouco efeito para eleger, ela pode ser fatal para o candidato que for pego e denunciado por disseminá-la. Porque antes mesmo de ser tipificada criminalmente, moralmente a notícia falsa já é criminalizada. E também será aquele político que manipular a informação e usá-la de má fé para ganhar a eleição. Ele pode até não ser preso ou punido por isso, mas tem grandes possibilidades de derreter perante a opinião pública.
Ou seja, a fakenews passa a influenciar a eleição não por seu conteúdo, mas por seu remetente, que corre o risco de passar por mentiroso. E se ele mente para ganhar a eleição, o que não fará no poder?
Daí a importância de uma cobertura ética e profissional das eleições. Diante desse contexto, as campanhas serão, cada vez mais, obrigadas a certificar a qualidade da informação que divulgarem – e o próprio mercado já se movimenta em torno de uma espécie de ISO 9000 da notícia, que verifique e ateste a procedência e a exatidão dos fatos veiculados.
Com a tecnologia e, junto a ela, a velocidade da informação virtual, a mentira tem a perna cada vez mais curta – e o feitiço pode se virar contra o mentiroso.