Um certo tédio pode comprometer o nosso cotidiano neste momento crítico que nos pegou desprevenidos. Mas duas coisas muito boas nos fazem olhar para além de nossa casa: música e solidariedade. Essa parceria tem sua quase completa tradução nas lives solidárias, que chegaram para preencher nossas vidas, proporcionando mais sentido à nova experiência na qual estamos inseridos – e com a qual estamos aprendendo.
E é para beneficiar associações filantrópicas ou grupos de ajuda humanitária aqui em PL, que músicos e bandas têm feito shows on line que alegram, conscientizam e sensibilizam o público. Através das telas de computadores e telefones, eles interagem com os lares e fazem também a boa ação de arrecadar alimentos, produtos de limpeza e de higiene, ou verbas para serem destinadas aos mais atingidos pelos impactos da pandemia.
As lives solidárias vêm espalhando um outro contágio, o do “vírus do amor”, neste planeta que se renova aos poucos. Estamos mais sensíveis, mais humanos. Estamos vivendo o mesmo drama, sob a mesma ameaça. Mas a verdade é que as condições sociais fazem diferença. Há pessoas passando por dificuldades financeiras muito sérias, em que falta até comida.
A solidariedade é então fundamental e chancela muitas ações solidárias que estão acontecendo pela cidade. Pessoas se unindo para conseguir levar alimento e outros produtos e levar a quem precisa. É nesse cenário de boas ações que as lives solidárias chegaram para colaborar com o sucesso das muitas campanhas que surgiram ou já existiam.
Houve várias lives e muitas virão. Mas, afinal, quem ganha com as lives? Por que elas têm sido tão importantes?
Ganham os cidadãos isolados do convívio social, através da presença on-line nos shows; ganham as pessoas que necessitam de auxílio, através das doações; e, através do carinho de seus fãs, ganham os cantores e bandas, que estão afastados dos palcos temporariamente.
A música tem sido, de modo físico, um combustível para o bem. Os grupos de voluntários, mobilizados em lives solidárias, sensibilizam a nossa cidade e levam alegria a famílias atendidas pelos projetos nas ações constantes. Ficar em casa, divertindo-se com shows ao vivo nas telas e praticando o bem, é algo inovador. As lives solidárias são um bom exemplo de lazer, cultura e cidadania.
A Banda Outubro Vermelho foi uma das primeiras a promover a ação solidária, inclusive com preocupação de mostrar que, mesmo estando na live, a distância um do outro deve ser mantida, incentivando as pessoas a tomarem esses devidos cuidados.
Helder Diniz, do Cidade Viva, conta: “tudo começou com o compartilhamento de ideias entre amigos sobre o que seria das pessoas mais vulneráveis em meio a uma pandemia. Quando percebemos, mais pessoas foram chegando, somando e assim um movimento de ações solidárias já estava formado”.
No dia 10 de abril, o amigo Douglas, que toca na Banda Outubro Vermelho, relatou que devido às suspensões de shows/aglomerações, estavam pensando em algo que pudesse se somar às ações solidárias. “Como ele sabe que sempre estou envolvido nessas ações, me pediu ajuda para descobrir quais os movimentos, instituições e associações que estavam precisando de apoio e que poderiam ser divulgados na live.
A R2, a banda Outubro Vermelho e a Kapoor Sonorização não cobraram nada. Mas faltava levantar recursos para pagar a empresa que faria a transmissão on-line do show com utilização de câmeras digitais para captação de imagens em HD e uso de aparelhagem. Através de uma “vaquinha” entre amigos e instituições, foram levantados os recursos que faltavam. “Fiquei muito feliz em poder ajudar. Saber que a gente está entrando na casa das pessoas, levando palavra, música e ainda ajudando? Isso não tem preço!”, diz Helder.
Enfim, no dia 25 de abril, às 17 horas, a Banda Outubro Vermelho realizou a live com o objetivo de divulgar os grupos de apoio às pessoas e famílias afetadas pela pandemia. Os contatos e contas foram divulgados para que o público escolhesse qual movimento ajudar.
Além da boa música que todos puderam assistir em seus lares, foram repassadas informações sobre como cada um poderia ajudar de alguma maneira, sem sair de casa.
Os grupos de ajuda que aceitaram ter seus nomes e contatos informados durante a transmissão foram o Projeto Vem Verão, Rede Solidária PL, Espaço Renato Andrade Pinto, Moto Resgate Voluntário, Cinco Pães e Dois Peixinhos, Cidade Viva, Associação Vida Pequenina, Campanha Unidos Contra o Corona, Nos ajude a ajudar –ATO, ASPPLE e Lions.
Ajudando ao vivo
Em 3 de maio, o cantor Gleison Túlio fez, segundo ele mesmo fala, bem descontraído no início de sua apresentação, “uma live simples, sem efeitos, sem microfone, tocando um pouquinho de guitarra” direto de Dom Joaquim, para beneficiar a ASPPLE (Associação dos Servidores Públicos de Pedro Leopoldo) em seus projetos sociais, além das ações solidárias da Núbia Albano.
A live mostrou toda a criatividade do cantor, que fez com que seus fãs se sentissem dentro de sua própria casa, como se estivessem no mesmo ambiente, na mesma sala, tendo, ao fundo, uma colcha de retalhos, dando um toque de aconchego. À frente da associação, Ivan explicou que uma equipe de voluntários está, há mais de seis semanas, se empenhando diariamente no projeto, amenizando e fortalecendo famílias carentes nesse momento tão delicado.
A arrecadação de alimentos segue com a ajuda de servidores e cidadãos sensibilizados. A live do Gleison foi outra conquista na arrecadação de mais alimentos para o projeto que assiste 86 famílias. Vale ressaltar que, no final da live, Gleison pediu também para as pessoas se lembrarem do importante ato de doar sangue.
Gilberto Rocha, do The Fhuntos, conta que a live da banda surgiu do interesse em ajudar o Laiite. “Essa pandemia nos fez voltar os olhos para essa população ‘invisível’ em nossa sociedade, que são os idosos. É um grupo que sofre preconceito; as pessoas mais jovens querem sair de casa o tempo todo, mas querem confinar os idosos. Muitos jovens não querem enxergar o risco que têm de contaminar pessoas mais vulneráveis, que podem ser quaisquer um de nós”, aponta o músico.
Pessoas que vivem em asilos, geralmente, sofrem com a dor do abandono e da solidão e a carência de insumos básicos pode agravar ainda mais esse quadro triste. Sendo assim, a banda The Fhuntos procurou parceiros que os ajudariam a bancar os custos da live, que aconteceu dia 9 de maio a partir das 17 horas. “Conseguimos, felizmente, contar com a colaboração e boa vontade de muitos para arrecadarmos fundos para o Laiite porque, antes de sermos uma banda brega, somos um conjunto de ideias que objetiva a alegria e o alto astral. Gostaríamos, inclusive, de deixar um convite a todas as pessoas de bom coração para que passem a ajudar o Lar para Idosos Irmã Teresa, o Laiite”, finaliza Gilberto.
Uns de tantos
O cantor Denilson Santos forma o grupo 1 dos 3, com Diogo Nunes e Leonardo Tafuri. “Nesse período de pandemia, estamos parados, já tínhamos visto algumas lives do pessoal de Pedro Leopoldo e sentimos a necessidade de participar também. Enquanto nos organizávamos, a Fátima da Apae entrou em contato com a Marisa Tafuri, mãe do Leonardo Tafuri, contando que ela estava com necessidade urgente de levantar recursos financeiros e solicitou que fizéssemos uma live em benefício da instituição”, conta.
“A gente não havia falado para ninguém que estava organizando essa live, estávamos pensando em arrecadar somente alimentos, por ser uma forma mais fácil da pessoa ajudar. No entanto, chegou essa solicitação pra a gente, avaliamos e não tivemos como deixar de incluir a instituição no projeto”, diz Denilson.
Eles resolveram solicitar o auxílio das pessoas também com a doação de alimentos, material de limpeza e higiene, que iriam para o Centro Espírita Meimei, cujo trabalho é desenvolvido pelo grupo espírita Chiquinho de Carvalho. A ideia era ajudar as 36 famílias que são assistidas por eles e também alguma pessoa ou família que estivesse passando por um momento difícil, necessitando de alimento, como os moradores de rua junto aos quais a banda já desenvolve um projeto.
Portanto, a live foi pensada e projetada para esses dois fins. Ela foi realizada no dia 16 de maio a partir das 16 horas. “Iniciamos a nossa live pedindo às pessoas por essas duas causas. Graças a Deus, nós tivemos uma aceitação muito boa das pessoas. Nós pedimos a muitos músicos daqui de PL, que são nossos parceiros, nossos amigos, para gravarem depoimentos pedindo para as pessoas doarem, com o intuito de também ajudá-los na divulgação de suas bandas e seus trabalhos”, explica Denilson.
Essa contribuição se estendeu também a músicos de fora, pessoas influentes, vereadores, artistas, jogadores de futebol. Muita gente gravou o vídeo na semana que antecedeu à live, o que fez com que ela fosse um sucesso de audiência. No final, foram 3.400 visualizações no dia. As pessoas fizeram transferências direto na conta da Apae e também pelo aplicativo picpay. “Juntando tudo, fechamos quase cem cestas básicas e uns 8 a 9 mil reais para a Apae. Resumindo, acho que o saldo foi mais que positivo, o objetivo foi atingido e foi a primeira vez que fizemos um áudio visual, foi bem legal”, comemora Denilson.
Realmente, a música é um caminho para a fraternidade. Ao ouvi-la, nos sentimos motivados a colaborar. Essa parceria é um sucesso indiscutível que estampa o que a sociedade tem de melhor e, agora, mais aflorado: o amor ao próximo. Ao participar de uma live solidária, a pessoa se envolve e percebe a importância de ajudar, embalada pelo ritmo caridoso, no arranjo da prática do bem.
Hoje, as lives solidárias são um símbolo de luta a favor da vida, um movimento que surgiu para a batalha contra dificuldades sociais. Nesta nova década, a música e a solidariedade são sinônimos de superação. A música está em todas as revoluções, comemorações, está no pulsar da vida. A música solidária é a mais bela entre as demais, preenchendo o histórico dos cantores e suas bandas com o rico trabalho voluntário.
Assim, a solidariedade vem dando um banho de luz nos dias cinzentos. Toda a cidade se envolve nas lives. Desde que começaram, as pessoas estão sempre aguardando por mais uma e querendo saber: qual será a próxima? Elas vieram para ficar, com a missão de alegrar a todos e dar esperança aos que enfrentam tempos difíceis. E vieram principalmente somar força ao trabalho dos voluntários que se desdobram pelos outros, em um esforço notável que merece toda a nossa admiração.
E, para alegria geral, vem aí a 2ª live solidária da Banda Outubro Vermelho, agendada para o próximo sábado, 6 de junho às 17 horas. As doações serão revertidas para famílias com cadastro no Movimento Cidade Viva, Espaço Renato Andrade e o grupo Cinco pães e dois peixinhos.