A crise provocada pelo surto de coronavírus não tem sido fácil para ninguém. Se alguns ainda têm o consolo de contar com o salário no fim do mês, muitos pequenos empresários não sabem o que vão fazer para sustentar seu negócio e sobreviver, não só neste momento, como depois da pandemia. Mesmo enxergando o futuro com incerteza, pequenos empresários estão lutando para se reinventar, com determinação e criatividade, para se organizarem neste novo modo de viver e trabalhar.
Em Pedro Leopoldo, surgem novas maneiras de empreender a partir de ideias próprias ou exemplos de outros; porém dentro da nossa realidade e definindo o que é necessário. Por todo município, podemos ver exemplos da reconhecida mudança que chegou e é tendência durante o isolamento social. Corajosos guerreiros deste cenário contam como vêm transformando toda uma rotina de vida, para se adaptar a um novo modo de trabalhar e às novas regras, desenvolvendo oportunidades de trabalho e renda com criatividade e respeito para cativar seus clientes.
Água na boca
Miriana Aparecida Lopes, moradora do bairro Felipe Cláudio de Sales é cozinheira de mão cheia. Faz cada almoço de dar água na boca, que são muito apreciados por seus amigos. “Eles sempre me pediam para fazer comida e vender, quando me viam postando meus cardápios nas redes sociais”, diz Miriana, que viu a renda familiar cair quando os demais membros de sua casa ficaram desempregados.
Ela criou em sua casa uma cozinha delivery, o “Miriana Comida Caseira”, e passou a fornecer marmitex, que a família leva de casa em casa. Além da encomenda, o cliente ainda recebe uma sobremesa de brinde! Miriana e seus colaboradores seguem as recomendações de higiene e todos usam toucas e máscara no preparo da deliciosa comida caseira. Por enquanto, só estão trabalhando no fim de semana, mas a grande procura mostra que o empreendimento veio pra ficar.
Doces e salgados inigualáveis
Moradora do bairro Santo Antônio, Regina Santos Fraga conquistou seus clientes com seus apetitosos “bolos no pote”, de sabor e consistência inigualáveis; produzidos por verdadeiras “mãos de fada” e muito apreciados por quem os encomendava. Antes da quarentena, ela administrava uma pequena empresa, a lanchonete “Keru+” na Academia Energia que, naturalmente, precisou fechar depois das medidas de isolamento social.
Regina explica: “Agora, eu desenvolvo meu trabalho em casa, dentro dos mais rigorosos padrões de higiene, com muito capricho, fazendo bolos, salgados, empadões, que são entregues nos fins de semana na casa de meus clientes”, diz Regina, que os arregimenta nas redes sociais.
Um carinho de artesanato
Antes desse momento conturbado, Taiara Jordana Lessa, moradora do bairro Morada dos Angicos, fazia artesanato em seu Ateliê Davida. Agora, ela inova na divulgação e entrega produtos na casa de seus clientes. Um cuidado a mais numa atividade que demanda muito carinho e dedicação. “Eu acho importante fazer o melhor para os clientes, produzir e preocupar com cada detalhe das peças. E minha maior satisfação é ver meus clientes felizes com meus produtos.”, diz Taiara.
Com o advento do “fique em casa”, Taiara aderiu à saudável febre das máscaras caseiras, aperfeiçoando sua linha de produção. Tudo é confeccionado com um toque especial, sofisticado, com muito carinho e charme. Cada produto vem embrulhado em uma sacola plástica, amarrado com uma delicada fita e um cartãozinho personalizado de agradecimento, um verdadeiro mimo.
Viagens na crise
A Daiana Redoan mora no bairro São Geraldo. Sua profissão é motorista da Uber, o que não deixa de caracterizar uma pequena empresa. Com a queda nas viagens, ela é persistente para driblar a crise e, enquanto transporta seus passageiros, ela colabora na revenda de máscaras caseiras produzidas por uma amiga. Ela também organiza e faz viagens particulares, levando pessoas a consultas médicas por exemplo, caracterizando os primeiros passos para um empreendimento maior nesse ramo sempre em alta que é o transporte.
Ela conta: “Peguei as máscaras para ajudar a mãe de uma de minhas amigas, como trabalho de Uber, ofereço às pessoas, principalmente a meus passageiros; e com isso está sendo mais uma renda para ajudar em casa. E eu gosto de dirigir, juntei o útil ao agradável. Faço o que gosto! Conheço várias pessoas diferentes, faço várias amizades.” Com um visual sempre muito bem produzido, que completa com a máscara, e com muita educação, Daiana leva álcool em gel no carro como proteção especial para uso de seus passageiros.
Leonardo Soares Rodrigues, do Bairro Lagoa de Santo Antônio, relata: “no momento, estou trabalhando de Uber porque, com essa pandemia do coronavírus, muitas empresas têm mandado muita gente embora e eu fui uma dessas. O trabalho no Uber me ajuda a fazer alguma coisa em casa, porque as contas não param, acho que elas não pegam vírus. Mas fé em Deus e vamos pra frente! Me preocupo sempre em fazer minha parte, gosto de tratar meus passageiros muito bem para que tenham uma boa viagem. Tenho dois filhos que dependem de mim, porque são menores”. Atento à segurança de todos, ele obedece aos protocolos impostos pela OMS: Leonardo não abre mão da máscara e sempre tem álcool em gel em seu carro.
Admirando essas notáveis histórias de superação, só podemos confirmar o quanto nosso povo é extraordinário, disposto, trabalhador, capaz de encontrar saídas em todo labirinto que surge pela vida. Na crise, o importante é o diferencial. Já se vê pelo Brasil afora iniciativas como a de um salão de beleza, que está vendendo serviços futuros, um voucher para hidratação, por exemplo.
Outros prestadores de serviços usam canais no YouTube com dicas de beleza, artesanato e culinária, para não perder o contato com seus clientes e ajudá-los nesse momento em que não podem atendê-los. Entregadores de marmitas fazem promoções como uma de graça a cada dez encomendas e mandam mimos como doces ou sachês de álcool gel. Tudo isso fideliza o cliente que, certamente, voltará depois da crise.
O futuro já mostrou que vai ser diferente. Lojas físicas funcionarão como “showrooms”, porque as pessoas estão se acostumando a comprar on-line. Bares e restaurantes vão entregar mais em casa, ou terão serviços diferenciados, que envolverão clima, ambiente e, naturalmente, distância entre os clientes. Escolas serão menos presenciais e a maioria das atividades econômicas terá, na internet, seu grande parceiro de marketing e divulgação.
Alguns setores nunca se recuperarão, outros vão crescer e oferecer oportunidades. No processo de reinvenção do trabalho, o importante sempre será vencer as adversidades e oferecer – da melhor maneira – aquilo que as pessoas precisam.