Ao lançar na semana passada o programa Minas Consciente, o governador Romeu Zema deu sinal verde aos prefeitos para flexibilizarem o isolamento. Trata-se de uma cartilha com orientações e protocolos de segurança dirigidos às cidades mineiras que queiram retomar as atividades comerciais durante a pandemia. O projeto foi desenvolvido pelas secretarias de Desenvolvimento Econômico e de Saúde e deu a prefeitos e secretários municipais de saúde a desculpa perfeita para suspender a quarentena e atender às pressões de comerciantes e trabalhadores informais, que precisam das ruas cheias para faturar.
Mesmo que o governador tenha insistido que é uma “reativação segura” em uma “nova normalidade”, a iniciativa acabou funcionando como licença para a flexibilização. Cidades da região metropolitana, do sul do estado e da zona da mata começam a suspender barreiras e a editar decretos mais flexíveis, permitindo o funcionamento de quase todas as atividades. Agora os gestores municipais têm uma justificativa: o estado liberou.
É no mínimo estranho que tal programa seja lançado justamente no pico da pandemia, com casos e mortes crescendo exponencialmente em todo o país, ou seja, quando era mais necessário manter o isolamento social. Nesse aspecto, inclusive, Minas vinha exibindo uma das melhores performances no controle da pandemia. Oficialmente, o estado tem, neste sábado, 2/05, 1.935 casos confirmados e 88 mortes provocadas pela Covid-19, enquanto São Paulo tem quinze vezes mais casos e trinta vezes mais óbitos.
A decisão de Zema pode gerar bônus e ônus. Se der certo, ponto para ele, que atende o comércio e o setor de serviços, sem prejudicar os cidadãos. Se der errado e a epidemia recrudescer, o prejuízo vai ser debitado na conta dele. E o povo não está perdoando: no Amazonas, a Assembleia aceitou pedido de impeachment do governador Wilson Lima, por má gestão no combate ao coronavírus no estado.