Como não poderia de ser, a polarização se instalou em plena pandemia do coronavírus e se há antagonismo em Brasília – onde o presidente não se entende com seu ministro da saúde – ela também acontece em boa parte do mais de 5 mil municípios brasileiros.
A polarização federal se repete nas cidades e nas atitudes de seus prefeitos. A esdrúxula competição entre saúde e economia ou, mais especificamente, a abertura do comércio versus isolamento social está na raiz de cada decreto baixado pelos administradores municipais nas últimas semanas.
A cada dia, mais cidades “tomam posição”. De um lado, estão aquelas que aprofundam restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento de comércio e serviços. De outro, as que insistem em relaxar as ações de isolamento, em busca de uma ainda fantasiosa volta da atividade produtiva. Seria um conflito normal entre empresários querendo vender e cidadãos com medo de ficar doentes. Mas, como em tudo que pode ter mais de um lado, no Brasil vira briga.
No vetor norte da região metropolitana de Belo Horizonte, a confusão é geral. O prefeito da capital, Alexandre Kalil, radicalizou nas medidas de isolamento e chegou a impedir a entrada de ônibus de cidades vizinhas que relaxaram as medidas de segurança durante a pandemia. Vespasiano e Matozinhos decidiram abrir o comércio; Lagoa Santa semi-flexibilizou, Pedro Leopoldo e Santa Luzia fecharam e ainda exigiram que a população use máscaras se sair de casa.
Cidades a menos de 40 quilômetros uma das outras decidem por condutas diferentes, como se seus moradores pudessem sair às ruas onde moram e se isolar onde trabalham. Caso por exemplo do pessoal de Lagoa Santa que trabalha em Belo Horizonte, nos estabelecimentos de setores essenciais que estão abertos. Ou os cidadãos de uma liberada Matozinhos, que frequentam uma restritiva Pedro Leopoldo, a oito quilômetros de distância.
Não é o caso de discutir quem tem ou não razão, já que quem decide isso são as autoridades sanitárias. O controle da pandemia, no entanto, gera discussão. E polêmica, que não é de hoje e não nasceu com o coronavírus. Desde 2013, o Brasil vive em constante estado de polarização e, mesmo diante de um vírus mortal, cultiva a discórdia ao invés de procurar o consenso, o entendimento e, consequentemente, a solução dos problemas.