Pelas quebradas virtuais que tanto a gente frequenta, fiz um novo amigo divertidíssimo, que provavelmente algum leitor também sabe quem é, o André Gabeh, um multiartista sensacional, autor de um livro delicioso, chamado Suburburinho (leitura que eu recomendo vivamente). Também escreveu Nunca Foi Sorte, Sempre Foi Macumba, leitura divertidíssima que tem uma dos prefácios mais lindos que eu já li na vida.
O Gabeh subverte o idioma do jeito que quer e fica tudo ótimo. Uma dessas transgressões é o verbo (dele, só dele) desbrilhar. E é um mar de desbrilhosos, de desbrilhantes, ah, como eu me divirto!
Apresentado o autor e o verbo, compartilho com o leitor um pouco da minha caixa postal, em que pipocam mensagens vindas de gente que tem a estranha mania de saber que eu existo somente em ano eleitoral. E não, não sou eleitoralmente relevante, mas eu compreendo que, pra quem está na correria, todo voto é voto. Recebo inbox propostas estranhas de “entra no meu grupo”, “me leva na sua casa”, e se procurar direitinho, é capaz até de achar um “me possua”, mas enfim, retornemos à vaca fria. Tem uma galera que, sabe-se lá o porquê, nessa época resolve lembrar meu nome, meu telefone, meu endereço.
Gente, gente…
Deixa eu com meu brilhinho, quietinho, discretinho… Não sou relevante, influente, nada disso. Deixa eu com meu brilhinho opaquinho, mas sincero, e em paz.
Porque, a essa altura do campeonato, meuzamigs, eu quero estar perto de quem me ajuda a evoluir, quem compartilha comigo o bom combate, a boa caminhada, porque eu só quero ser um tiquinho melhor, sabe? Eu não quero “mexida” com esse povo desbrilhoso, que desbrilha a gente. Não estou com qualquer vontade de gastar vida com essa energia pesada que esse povo tem.
É o tipo de parceria que lasca o trem todo. Energia ruim, turva.
Desbrilhante.
E me lembra a historinha do urubu e do pavão. O urubu gastando o pavão, dizendo que sabia voar, enquanto o outro vivia colado no piso. O pavão devolvendo a galhofa, dizendo que era lindo e maravilhoso, enquanto o outro era feio igual bater na mãe.
Aí, o pavão manda a pérola: “a gente cruza. Juntamos o melhor de nós, vai nascer um filhote lindo como eu, e que voa, como você”.
E foi justamente na cruza dos desbrilhosos que nasceu o peru: feio como um urubu, e não voa, assim como o pavão.
E deixa eu ficar aqui no meu cantinho, jogando meu Atari, e tomando meu Q-Suco, que pra mim tá bom assim.